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sábado, 15 de janeiro de 2011

Ética Docente: um compromisso com a convivência solidária.

Ética Docente: um compromisso com a convivência solidária.
Ligeany de Alencar[i]
Resumo: O presente artigo discute a importância da Ética Docente com a finalidade de compreender o cotidiano escolar do professor através de uma reflexão de consciência do mesmo sobre o seu papel e comportamento na sociedade.

Palavras-chave: Ética. Docência. Profissionalismo. Padrão de Comportamento. Educação.

            Esse texto tem como objetivo analisar a ética docente no que diz respeito a sua profissionalização, bem como refletir em questões como: Que professor está sendo formado hoje? O que se espera da educação numa sociedade como a nossa? São questões como essas que precisam ser analisadas, uma vez que muitos profissionais não tem se comprometido e com isso, a educação está fadada ao fracasso. Muitas vezes os professores sentem-se impotentes e incapazes diante de situações como violência que tem assolado as escolas, falta de recursos, péssimas condições de trabalho, políticas que pouco tem haver com o ensino de qualidade. Há um descaso muito grande com a educação e até mesmo com esses professores? Diante disso, como pensar a ética docente num mundo globalizado e interdependente?
            Primeiro, é importante que se compreenda o que seja ética, docência e ética profissional bem como a relação entre elas.
            Segundo Vásquez a ética não pode ser confundida com a moral. Ele ressalta que:

A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação desses juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais. [...] A ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano. (VÁSQUEZ, 1999, p. 22-23).

A ética, no entanto, estuda os fundamentos da moral, e, portanto, é marcada por algumas questões importantes, como por exemplo: O que fazer? O que deve fazer? O que é necessário fazer?  É uma busca pela garantia de uma vida harmoniosa. Uma determinação das condições para a correta ação e bom comportamento no mundo.
Mencionar a ética dentro do contexto educacional, é algo importante, pois os futuros profissionais precisam de uma formação que esteja embasada em princípios morais e éticos, para construir uma sociedade mais virtuosa.  A ética profissional serve como uma bússola que vai orientar o professor direcionando-o para o desenvolvimento, e assim, estimulando-o para que o mesmo possa ampliar sua capacidade de pensar e de agir, refletindo o seu papel diante da sociedade.
Cambi relata que “a educação veio se redesenhando sobre os perfis profissionais, colocou no centro a ótica do profissionalismo e a escola assumiu como sua essa tarefa primária” (1999, p.395). Pode se dizer que a educação exerce uma ação importante na construção do perfil do professor, e dessa forma, colabora para o desenvolvimento da ética docente.
Passos (1998, p.154) aborda que as bases éticas possibilitam a relação do profissional da educação com aqueles que usufruem de seu serviço. A ação educadora, profissional envolve os outros, ou seja, envolve a sociedade que é afetada pelos comportamentos dos educadores. Nessa perspectiva, é que surge a necessidade de se normatizar o comportamento do homem cuja finalidade é gerar uma boa convivência humana. Normas que possibilite o bem viver e que oriente o agir do indivíduo dentro da sociedade.
Pensar a ética docente é pensar a qualificação do trabalho do professor como uma atividade que ultrapasse a dimensão moral na direção da postura da ética, uma vez que esta última permite a crítica à moral e através da crítica é possível questionarmos a ideologia, modo de pensar e de agir, lançando-nos em diferentes alternativas sociais.
Conclui-se que através da ética é possível refletir teoricamente e filosoficamente sobre a docência, sobre o fazer pedagógico. Com isso, procurar responder aos seguintes questionamentos: O que é docência, como fazer e para que fazer? No campo da moral, é preciso pensar as normas, os comportamentos e por em prática o que foi refletido. E, no que diz respeito ao campo da ética, é fazer uma reflexão teórica de ordem geral para uma docência que seja benéfica.
A ética docente possibilita a educação conjecturar sobre os sistemas e sobre os processos de educação para apreciar-lhes o valor dos educadores, e assim, esclarecer e dirigir a ação dos mesmos. Analisar a docência e a maneira como ela está sendo aplicada, pode ser um instrumento de grande importância para os fins educativos, desde que essa análise tenha como perspectiva uma educação lograda, bem sucedida e bem resolvida.
O profissional da docência é essencialmente um profissional educador em qualquer nível em que ele se coloque: seja nos primeiros anos de uma criança, seja nos anos de sua juventude, quando universitário, seja em suas atividades de pós-graduação. Em qualquer um destes níveis, está presente sua responsabilidade pela difusão do conhecimento. Seu compromisso deve estar ligado à formação de uma nova geração de cidadãos e profissionais, com o desenvolvimento pessoal e social dessas pessoas, com o processo de aprendizagem, uma vez que estão em continuo desenvolvimento. O docente é um gerador de agentes transformadores da sociedade.
Partindo desse pressuposto, é que se pode dizer que o professor não é apenas um “expert” num determinado assunto, mas também um profissional da educação por excelência, e que por esta razão, precisa repensar seus relacionamentos com seus alunos e com a sociedade à qual presta seus serviços.
Na profissão docente, a ética se preocupa com a socialização dos conhecimentos, com a dignidade humana de todos os indivíduos que estão envolvidos no processo de aprendizagem e com o respeito devido a eles, cujo objetivo é buscar o bem estar das pessoas para que futuramente eles possam fazer a diferença na sociedade.
A competência do profissional da educação é imprescindível na área do conhecimento, uma vez que esta permite que o educador compreenda sua prática pedagógica, vivencie com os alunos uma relação de parceria e co-responsabilidade no processo de aprendizagem, procurando experimentar novas propostas para que o aluno relacione o aprendido em aula com as situações vividas na sociedade. A ética docente não se preocupa apenas com o processo de aprendizagem, com a realidade escolar, mas também com a realidade social. Dias-da-Silva relata muito bem isso:

Os professores atualmente precisam apropriar-se de muito mais conhecimentos sobre a realidade social e escolar para interpretarem sua “prática” – desde analisar suas implicações do modelo neoliberal para a concepção de educação até desvendar e interpretar as culturas jovens, suas tribos e ritos; desde analisar criticamente a sociedade desigual em que vivemos até desvendar a contribuição do conhecimento cientifico para a interpretação de seus hábitos e práticas; desde decifrar as novas fontes de informação e seus mecanismos até a contribuição da arte como possibilidade de enfrentamento da violência que perpassa nosso cotidiano; desde conhecer profundamente os processos de raciocínio e pensamento dos alunos até dominar processos e modalidades de construção de um leitor crítico, etc. E todos esses aspectos implicam domínio do conhecimento educacional – suas teorias, pesquisas e estudos, seus atores clássicos e contemporâneos, suas análises e interpretações, suas hipóteses e teses: enfim conhecimento. Conhecimento racionalmente construído, que permita interpretar os homens, suas sociedades e culturas, seu pensar e seu agir. (DIAS-DA-SILVA, 2007, p. 180).

            A partir dessas idéias, fica claro que o professor para exercer sua ética, precisa está embasado no conhecimento racional, para conhecer as questões sobre educação bem como as diversas práticas analisadas na perspectiva histórico-sócio-cultural. Precisa ainda, conhecer o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social do seu aluno e desse modo, refletir seu papel diante da escola e da sociedade.
            Hoje, nos deparamos com uma sociedade injusta e desigual, na qual tem enfrentado constantes mudanças.  Percebe-se, portanto, que há uma carência de postura ética, uma educação ética, com a qual se pode alicerçar um futuro digno. Estas estruturas de equilíbrio sócio-cultural estão sendo questionadas, e como consequência tem levado instituições como família, religião, política, educadores e estudantes a profundos processos de reflexão e transformação.                       
            É nesse contexto que a ética está inserida, numa percepção tanto emocional quanto racional, e na condição que se pode adquirir tanto de posicionamento quanto de coerência frente aos conflitos.
            A formação ética do ser humano se dá com o desenvolvimento e maturação do mesmo, e dessa forma, o homem torna-se um agente essencial para a transformação da sociedade, respeitando o próximo como sujeito atuante e autônomo. Por isso, que atualmente, muito se tem trabalhado nas escolas no que diz respeito à autonomia das crianças. Tem-se buscado despertar a responsabilidade e o compromisso, para que essas crianças possam se tornar cidadãos responsáveis e comprometidos com a sociedade à qual fazem parte.
            A ética docente tem de ser, em si, um testemunho de decência. É necessário que a docência e sua prática sejam de doação, exercício, estudo, reflexão, aperfeiçoamento e amor. Sob esta visão, ainda se nota que muitos docentes dedicam sua vida à formação de cidadãos críticos, aperfeiçoando assim a personalidade de seus discentes. Muitos docentes percebem que aprendizagem é um processo e não um produto. E através disso, tem-se construído uma relação professor-aluno, uma interação na qual ambos percebem que podem construir e reconstruir o conhecimento.
            Nessa perspectiva ética, Passos aborda que:

[...], a ação educadora, como ação profissional é sem dúvida, uma ação humana peculiar que envolve os outros. Evidencia-se, nesse caso, que praticamente os indivíduos humanos em relação entre si são afetados por seus próprios comportamentos. (PASSOS, 1998, p.154)
           
Essa necessidade de estabelecer normas de comportamento e reconhecê-las constituem-se, segundo Passos (1998, p.155) num dever que orienta o agir humano. Por isso, ela destaca dois tipos de éticas: teleológicas e deontológicas. A ética teleológica que se baseia na ética nos fins, ou seja, é um comportamento intencional. Fins a serem atingidos através das ações humanas. No que diz respeito à ética deontológica, é ela quem vai orientar as escolhas do homem. São os princípios e regras de conduta inerentes a uma determinada sociedade ou profissão. Concluindo, essas perspectivas resultam em princípios que organizam as ações humanas sob a ótica do dever (PASSOS, 1998, p.156).
Através da ética docente, o professor pode orientar as escolhas dos seus alunos e assim, conscientizá-los que essas escolhas geram consequências, e que estas podem ser boas ou ruins.  É necessário discernir o que vale a pena. A ética docente permite que a educação, em sua dimensão pessoal, possa contribuir para que essas escolhas sejam significativas na construção de uma vida com sentido. É a ética que irá determinar as condições para a correta ação e comportamento do homem no mundo.
Freire afirma dizendo:

Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam. (FREIRE, 1996, p.54).

A ética, portanto, é um instrumento fundamental que possibilita o homem ser agente transformador da sociedade ainda que seja difícil agir de forma correta num mundo tão conturbado e corrupto, que muitas vezes desconhece os fundamentos éticos. Freire, no entanto, nos encoraja expondo que os obstáculos não duram para sempre.
Com isso, pode-se concluir que ser ético não é impossível, e que através da ética docente, o profissional poderá enfrentar as mais diversas barreiras no campo da educação, e desta forma, poderá ser útil na sociedade ao qual está inserido, formando homens com uma consciência autônoma, crítica e inovadora.
Estefania Araújo Dantas (2010) em seu artigo A Ética e a Moral na educação relata que:

O papel fundamental da ética na educação é formar pessoas capazes de viver com plena consciência de que existem na sociedade normas que lhe são propostas, e que cabe a cada um escolher o que é melhor, e que estas normas só existem para o bem comum da sociedade. É pela educação que estaremos construindo uma sociedade mais digna e justa [...].

           
Finalizando, é preciso considerar que muitas idéias contidas neste texto são de grande relevância para a reflexão da prática docente e sua ação dentro do contexto escolar. O comportamento docente empreendida aqui aponta para um desdobramento futuro, que visa avaliar os valores apresentados como essenciais ao ensino comprometido com a formação humana.
Referências

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP (FEU), 1999.


DANTAS, Estefania. A Ética e a Moral na educação.  Disponível em <http://www.webartigos.com>. Acesso em 25 nov. 2010.


DIAS-DA-SILVA, Maria Helena Frem. e A LDBEN e a formação de professores: armadilhas ou consequências? In: GENTILINI, J. A. et al (org.). Dez anos de LDB: contribuições para a discussão das políticas públicas em educação no Brasil. Araraquara: Junqueira&Marin/UNESP, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.


VASQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Ética e sua aplicabilidade na prática docente. Disponível em <http://www.webartigos.com>. Acesso em 18 nov. 2010.



[i] Estudante do Curso de Pedagogia – 4º Semestre – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Disciplina: Ética, ministrada pelo professor Leonardo Maia.
lige_alencar@hotmail.com

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